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DOC | A Reinvenção da carreira médica no pós-pandemia

A pandemia de Covid-19 trouxe grandes desafios e consequências à área da Saúde. Seja pelo número de infectados e de óbitos ou pelo impacto gerado no atendimento do paciente e na carreira do médico como um todo, a situação demandou coragem e um número incontável de estratégias para que o trabalho prosseguisse. Afinal, mais do que nunca, a reinvenção da carreira tornou-se uma exigência e não uma opção.

Apesar dos esforços, a carreira e os negócios de muitos médicos foram afetados negativamente, o que gera alguns questionamentos para o atual momento da profissão: é possível lidar com uma nova realidade tão complexa? Todos os profissionais foram ou serão afetados? Como se recuperar da crise? Perguntas como essas podem ter várias respostas, dependendo do cenário, do tipo de crise vivenciada e da postura adotada.

Pensando nisso, reunimos cinco tópicos muito importantes para esse período. Nessa reportagem, contamos com a participação de especialistas médicos e das áreas de Comunicação e Gestão de Crises, que disponibilizaram dicas e um parecer diante do novo formato de trabalho imposto pela pandemia, pensando na reinvenção da carreira médica.

Reabertura

Atualmente, vive-se uma fase de incertezas em todo o mundo. Mas, aos poucos, consultórios e clínicas têm reaberto suas portas e retomado atividades presenciais. Nesse período de pandemia, muitos desses negócios tiveram seu movimento reduzido, especialmente nas especialidades cirúrgicas, o que traz novos desafios e até mesmo a necessidade de reconstrução da carreira.

De acordo com o gastroenterologista Guilherme Sander, MBA em Gestão pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), algumas clínicas sem reservas de caixa tiveram que reduzir horários, área de atuação ou até mesmo fechar. “Há uma tendência a apressar uma certa seleção natural, com o fechamento, em especial, de negócios que já não vinham bem”, explica.

O especialista acredita que, por algum tempo, o receio com a biossegurança estará presente, com aversão a aglomerações e preocupação com a higiene local. Isso pode afastar alguns pacientes das clínicas e dos consultórios. “Além disso, possivelmente, haverá uma redução do número de usuários de planos de saúde, o que também deixará o mercado mais disputado. Por outro lado, em espaços compartilhados, pode haver o fechamento de operações, elevando os custos dos que permanecerem”, acrescenta.

Outro ponto destacado pelo profissional é a necessidade de se repensar os fluxos, de forma a evitar aglomerações. No caso de clínicas e hospitais, os desafios também são outros. “O cuidado com o abastecimento de medicamentos e materiais também é fundamental, para evitar paradas por falta de insumos ou submissão a preços absurdos”, avalia Sander.

No caso do dermatologista André Braz, atuante na Dermatologia Clínica, Cirúrgica e Cosmiátrica e proprietário da clínica que leva seu nome, localizada no Rio de Janeiro, esses novos desafios têm sido vivenciados na prática diária. “O início da pandemia pegou de surpresa todos os médicos, em especial, os que trabalham em clínicas privadas, gerando demandas urgentes, todas feitas em pouco tempo, buscando manter o otimismo e sendo forte para transmitir segurança às pessoas vinculadas ao trabalho”, revela.

Entre algumas dessas demandas urgentes, o dermatologista destaca: a orientação de todos os pacientes agendados e com tratamentos em andamento; a organização da equipe em uma nova atuação o modelo de home office; a tomada de decisões urgentes sobre a gestão do negócio; e também a tomada de decisões urgentes para fortalecer o caixa.

Braz revela que, no início da pandemia, existia a dúvida sobre quanto tempo a paralisação duraria e se, na volta, o paciente se sentiria seguro a retomar o tratamento. No entanto, o cenário vem se mostrando positivo para a clínica. “Posso atribuir esse ritmo de retomada ao relacionamento prévio com cada paciente. Afinal, temos muitos pacientes que realizam seus tratamentos há muitos anos conosco e também indicam outros pacientes, pelo seu grau de satisfação e confiança”, destaca.

O médico revela, também, o impacto positivo da comunicação digital durante o período de quarentena. Os pacientes foram informados a todo tempo sobre fechamento, retorno com menor número de atendimentos presenciais e uso da Telemedicina. “O fato de a equipe estar empenhada em dedicar o seu melhor e as medidas de segurança serem criteriosamente aplicadas também contribuíram para que o paciente percebesse o cuidado e se sentisse confiante”, garante.

Evidências físicas

Outro ponto importante para a retomada das atividades ou continuação de serviços em instituições de saúde são as evidências físicas, que demonstram ao paciente o grau de segurança, limpeza e, assim, confiabilidade que ele pode depositar naquele local. De acordo com Sander, triagem de febre, higienização de mãos e uso obrigatório de máscaras são medidas que ajudam a perceber a preocupação com a segurança. “Clínicas com higiene questionável, com reprocessamento inadequado de materiais, que não façam coleta adequada de resíduos ou com banheiros sujos serão penalizadas”, alerta.

Dessa forma, Braz traz um outro cenário relacionado à necessidade de cuidar das equipes. “É preciso desenvolver protocolos de higiene interna máxima, organizar horários de trabalho, providenciar equipamentos de proteção individual (EPIs) e manter a todos bem treinados, de modo que esse sentimento de segurança por parte da equipe possa ser transmitido nas ações de comunicação com os pacientes”, destaca. De acordo com o dermatologista, se o paciente perceber a equipe segura e bem-disposta a prestar o melhor atendimento, ele também se sentirá seguro.

Relacionamento com o paciente

Ao falar em reabertura, a comunicação com o paciente tem influência em sua percepção sobre determinado serviço. Segundo o jornalista José Luchetti, sócio da empresa DOC Press e autor do livro O médico e o jornalista, o médico não pode preterir nenhum meio de comunicação.

“A comunicação é a essência das relações humanas. Nesse momento, as mídias sociais são bons caminhos para reconstrução de carreira ou para manter o tema de um especialista em evidência entre pacientes e na sociedade”, assegura.

De acordo com o comunicador, a pandemia afetou a todos, não somente a Medicina. “O planeta está gerenciando uma crise. Mas ela passará. O momento é de estruturar ações que possam ser deflagradas por etapas e conforme a crise for ficando mais branda. Esse momento está chegando, então, a hora de se planejar é agora”, orienta.

Para Luchetti, a quarentena trouxe a importância da reflexão. Ele acredita que, hoje, pensar várias vezes antes de publicar em uma mídia social é essencial. “Com a pandemia, tudo ficou menos urgente e a contenção da propagação do vírus é o que determina o rumo das coisas. Dessa forma, percebemos a importância da estratégia e o momento exato para deflagrar uma ação de comunicação”, analisa.

Quem também aborda a importância de um relacionamento estruturado é Isabela Pimentel, consultora especializada em Planejamento de Comunicação Integrada e Gestão de Crise, com experiencia na área da Saúde. Ela explica que, com a redução das consultas presenciais na pandemia, os médicos devem se familiarizar com as ferramentas de marketing digital e usar redes sociais.

Para Isabela, esse é um momento crítico, mas que mostra a importância de uma comunicação humanizada. “Precisamos priorizar, além da informação de qualidade para o cidadão, o cuidado com quem estava na linha de frente, com um impacto psicológico alto”, acrescenta.

Para que as mídias digitais podem ser utilizadas?

  • Estar próximo aos pacientes;
  • Posicionar a marca/consultório e mostrar que está trabalhando em novas condições;
  • Fornecer informações seguras e confiáveis;
  • Comunicar a migração do atendimento presencial para a Telemedicina;
  • Orientar sobre novo formato de trabalho e atendimento;
  • Deixar claro em que canais poderá ser feito o atendimento.

Recuperação financeira

No período de isolamento social, muitos médicos também foram afetados financeiramente. Para que a volta aos atendimentos presenciais seja bem-sucedida, Guilherme Sander cita algumas medidas que esses profissionais podem adotar para se recuperar economicamente. “Perceber as tendências pós-Covid e estar disponível para sua clientela, ainda que remotamente, no caso de pequenas orientações, evitam a migração de pacientes. O marketing será cada vez mais necessário e o mercado voltará mais competitivo. É hora da reinvenção da carreira e elevar a qualidade do atendimento”, avalia.

Ainda no âmbito de gerenciamento de crises, Isabela revela que, para o retorno às atividades presenciais, as clínicas e os consultórios precisarão alocar verbas e realizar investimentos. Entre eles, ela pontua a sinalização com placas indicativas do uso obrigatório de máscaras e outras ações fundamentais para garantir que os locais de atendimento se mantenham seguros e não sejam foco de contaminação. “Após essas primeiras adequações, o ideal, portanto, é garantir um retorno seguro e gradual aos atendimentos, de forma a recuperar o que foi investido”, explica.

Novos conhecimentos

Para os médicos entrevistados, que têm vivenciado na prática essa nova realidade de trabalho, muitos ensinamentos podem ser tirados da pandemia. De acordo com André Braz, foi possível entender decisões assertivas e valorizar os processos que já vinham sendo organizados pelos especialistas que trabalham na clínica. “Hoje, temos uma equipe de gestores que cuida desde o treinamento e o engajamento da equipe de atendimento até o cuidado com a comunicação e a imagem da clínica, bem como audita as finanças e faz planejamento tributário”, conta.

Além disso, o profissional explica que, para tomar decisões assertivas, é importante olhar para os dados da clínica e também rever os processos, para que sejam cada dia melhores. “Tudo isso conectado à visão de futuro. A pandemia deixou explícito que o olhar para a gestão contribui para o crescimento diário da clínica e, em momentos desafiadores, nos sentimos mais preparados para superar os imprevistos”, conclui.

Já Guilherme Sander acrescenta que toda crise é uma aula de gestão. “Não há nada de novo, mas a crise reforça tudo que sempre se disse como importante, mas que ficava para amanhã. Portanto, inovação, marketing, qualidade do atendimento, personalização, uso e abuso de tecnologias: essas serão as marcas deste período”, garante.

Dicas para reinvenção da carreira e fortalecer a marca

  • Invista em mídias sociais;
  • Fique atento às tendências de gestão;
  • Reduza custos supérfluos;
  • Invista em qualidade no atendimento;
  • Aprenda a utilizar novas tecnologias;
  • Forneça atendimento por meio da Telemedicina;
  • Faça-se presente nas redes sociais (com postagens e lives, até mesmo em parceria com outros profissionais da área médica).

Veja a matéria completa em:

A reinvenção da carreira médica no pós-pandemia

DR. ANDRÉ BRAZ

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